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8/01/14

Espanhol: dia de muertos

Neste dia 2 de novembro, Dia dos Mortos, a TAL oferece uma seleção de três vídeos que mostram as celebrações aos mortos em três países do continente: México, Peru e Bolívia.

Os cultos em homenagem aos ancestrais e parentes mortos são uma velha tradição dos povos indígenas da América Latina. Realizada desde muito antes da chegada dos conquistadores.

O Dia dos Mortos no México é certamente o culto mais animado e conhecido entre todos. Atualmente coincide com as tradições católicas do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos. E é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Comidas e bebidas são oferecidas aos mortos acompanhadas de muita música e festa. Assista aos vídeos:

- Día de Muertos

- Los Peruanos: De Ollas y Sueños

- Los Bolivianos

6/17/14

Degrau ou degrais?

O plural de palavras terminadas com ditongo "au" é "aus". A confusão acontece porque colocamos "i" no plural das palavras com "al" no final, como acontece, por exemplo, em "local => locais". 



4/09/14

Portugues: Etimologia; A ancora da palavra


A âncora da palavra

Se perdemos o lastro de uma referência concreta a que vinculemos um vocábulo, a língua gera um mundo à parte, difícil de captar  

Há, na formação de palavras, duas tendências bastante fortes e antagônicas, móveis como o riacho de Heráclito, cada uma produzindo o germe da outra, numa imagem parecida à doyin-yang. Essas duas forças seriam aquilo que, desde os estoicos, se convencionou chamar de significante e significado. No entanto, esses dois lados da mesma coisa, conhecida como signo linguístico (desde a publicação do Cours de Linguistique Générale, atribuído a Ferdinand de Saussure) são, na verdade, à luz da semiótica, uma espécie de signo, a saber, um símbolo, e tem uma terceira face, que se costuma chamar de "referência".



Dogma
A referência é por demais complexa para qualquer teorização linguística, mas é o assunto principal da ontologia. Divorciando-se da referência, a língua gera um mundo à parte. Hjelmslev talvez tenha sido o primeiro a mostrar que significado e significante fazem poucas incursões de volta à referência. Seu conselho de abandonar a referência, contudo, tomou ares dogmáticos nos estudos linguísticos do século 20. Um segundo dogma está no próprio Cours, que repete a já consagrada ideia de que a relação entre significante e significado é arbitrária. 

Se o recorte da referência e a postulação da arbitrariedade do signo são dois fundamentos da linguística moderna, por que chamá-los de dogmas? Obviamente, há razão nessas posturas. Mas, em vez de entendê-las como verdades absolutas, é preciso termos de forma clara em nossa mente que ambas nada mais são que decisões metodológicas. 

No início do século 20 havia muita discussão sobre os mesmos temas, como se vê pelo grande interesse pela estilística nessa época. Na revista Wörter und Sachen, as leis fonéticas dedutivas dos antigos neogramáticos foram postas em xeque perante as evidências fornecidas pela dialetologia e pela língua falada. Todo modo de se fazer etimologia estava balançando.

Infelizmente, esses raciocínios e indagações, tão produtivos quanto interessantes, foram abortados pelas guerras mundiais. Se, por um lado, se manteve a crítica à etimologia, por outro, não se recuperou o modo de fazê-la, dada a aversão pela história factual e o crescente desinteresse, desde então, por línguas mortas. Era a vez das línguas vivas, do sistema e da sincronia, valores pinçados do Cours e valorizados como algo novo. Décadas se passaram até se perceber que essas escolhas não refletiam o todo.

Cegueira
Obviamente a referência é algo difícil demais para uma teoria linguística: quando digo "cadeira" faço uma imagem mental daquilo que quero dizer em português, mas também posso usar o mesmo termo para esta cadeira específica que tenho diante de meus olhos. Ela, por sua vez, tem diferenças (que julgo pouco importantes) daquela outra cadeira específica que também tenho diante mim. 

Pouco importantes - apressemo-nos a dizer - para essa abstração que é o "significado": uma cadeira pode ser branca, a outra verde; pode ser de madeira, a outra de plástico; pode ser maior que a outra; mais pesada que a outra; pode ser parecida mas com pequenos detalhes e defeitos que as individualizam. Enfim, o material, o formato, a cor não são importantes para o signo "cadeira", pois isso pode vir em outro signo (cadeira de plástico, cadeirinha, cadeira azul). 

Se uma cadeira tem quatro pés e outra tem uma só base, apesar da diferença perceptível, diremos que estamos diante de duas cadeiras. Abstraímos a diferença, como pouco importante, ficamos voluntariamente cegos de maneira mais ou menos consciente, tudo dependerá da atenção, do que queremos focar. Na confecção do signo linguístico, osignificado depende dessa cegueira, sem a qual ele não se forma.

Aparentemente, isso ocorre não só na nossa espécie e a capacidade para distinguir se entrevê nas atitudes de inúmeros animais. Mas dizer que o signo linguístico não depende da referência é um exagero parecido com o que fez Berkeley em sua interessante filosofia. 

O segundo dogma é muito mais polêmico. De que tipo de arbitrariedade do signo estamos falando? Novamente, é óbvio que a sequência de sons c-a-d-e-i-r-a não tem nada a ver com a imagem mental descrita nos parágrafos anteriores. A mesma imagem se pode fazer por meio da palavra alemã Stuhl ou inglesa chair(que, por sinal, tem o mesmo étimo da portuguesa, o latim cathedra, palavra de origem grega). 

Os sons escolhidos por uma língua não remetem a nada da referência de forma clara, embora uma corrente antiga o negue, desde Platão, passando por Leibniz e Gébelin, Grimm, Rimbaud e linguistas pré-saussurianos. Desafiando tal postura, sempre houve o problema das onomatopeias e dos derivados. 

Bem-te-vi
Um animal como o bem-te-vi tem um nome (portanto, um significante) que é arbitrário, no sentido de que não há nada na essência de um bem-te-vi que deixe transparecer seu nome, a ponto de reconstruirmos o pássaro a partir do seu nome, sem a experiência. Mas o nome francês quiquivi e o inglês kiskadee mostram que os falantes de línguas distintas associam o som emitido pelo animal com um vocábulo trissílabo em que transparecem consoantes oclusivas e ao menos um som semelhante ao [i]. 

Ora, o inglês apresenta um sistema linguístico distinto do do português e evidentemente quanto mais distante a língua, mais complicada a associação fonológica (sobretudo se não tiver, hipoteticamente, uma vogal tão fechada e aguda quanto [i] com a qual se pode associar o som agudo da emissão do pássaro). Tal associação, além disso, não é obrigatória. 

Motivação
Uma segunda crítica à tese da arbitrariedade do signo, embora não tão bem justificada, envolveria a capacidade de o falante reconhecer elementos significativos no interior de palavras: estamos falando de questões tecnicamente conhecidas como "motivação". Nesse assunto, a etimologia tem algo a dizer.

O latim denominava sanguisuga um famoso verme que tem seu nome preservado em português como "sanguessuga". A motivação decorrente da composição dos seus elementos internos é evidente, uma vez que qualquer falante atento reconhecerá na palavra tanto "sangue" quanto "suga" (flexão do verbo "sugar"). O bicho, de fato, suga sangue e nada melhor que um nome em que tal atitude - essencial ao signo que o representa - esteja nomeada. 

Sanguessuga
O estruturalismo, favorável à tese da arbitrariedade do signo, observou que isso é só um dos enfoquespossíveis. Quando dizemos "motorista" enfocamos o motor do automóvel, mas em inglês driver enfoca a ação de dirigir (to drive "dirigir") e, em francêschauffeur, a ação de se esquentar o motor (chaud"quente"). Nenhuma língua está mais próxima da realidade que a outra, ao enfocar este ou aquele aspecto da ação. Decorrente disso, defenderam-se outros dogmas mais complexos, como o do relativismo cultural, hoje em dia tão brilhante e cautelosamente questionado por autores como Steven Pinker e Richard Dawkins.

Mas voltemos ao "sanguessuga". Talvez haja um componente importante para a preservação dessa motivação. Na preferência indisfarçável que a linguística moderna tem pela língua falada, a questão datransmissão sempre esteve paradoxalmente em segundo plano. 

Uma pessoa que lê e mora na cidade transmite uma palavra tão incomum no seu dia a dia quanto é um "sanguessuga" de forma distinta daquela que não lê, mas convive, à beira dos rios, com esses terríveis bichinhos. Uma coisa é o sanguessuga metafórico, outra é o animal com existência real para além das aulas de biologia ou de documentários televisivos. 

Platonismos
O dicionário etimológico de José Pedro Machado mostra que se dizia sambexuga no século 15, forma em que a motivação do signo está destruída. Um século depois, no dicionário de Jerônimo Cardoso, o verbetesambixuga mostra que não se tratava de forma isolada, mas sambexuga tinha tradição paralela à desanguessuga. No século 14 se vê samessuga, alterado dois séculos depois (samexuga). Ainda hoje ouvimos, na variação regional do português, formas comosamexungaxamexuga e xamexuma. Poderíamos fazer árvore genealógica dessas formas, como fazia Leite de Vasconcelos.

O último caso revela aquilo que dissemos acima sobre oyin-yang: de um lado, há uma força tentando preservar os dois elementos significativos (sangue e sugar), de outro, uma segunda força tenta gerar uma cadência musical por meio da aliteração vocálica e da repetição de sons como x e m (x...m...x...m, no caso dexamexuma). Os focos, quer no significado, quer no significante, se permutam ao longo da história. 

A gramática normativa interpõe-se, nesse caso, a favor da primeira opção de forma injusta, uma vez que a segunda também é válida na formação dos vocábulos e das línguas. Não é incomum pessoas serem ridicularizadas porque usam alguma das variantes não oficiais. Num site de relacionamentos, uma pessoa anônima capricha no seu preconceito linguístico: "tem um ex-vereador aqui de Registro que diz 'aqui em Registro tem muito xamexuma'... sabem o que é isso????Sanguessuga!!!!!! Eu heimmmmm". 

O platonismo intrínseco nas gramáticas normativas (as quais postulam uma forma ideal) e o fenômeno conhecido como shibboleth (com raízes na visão tribal e etnocêntrica dos falantes) rejeitam as variantes linguísticas, de maneira muito intensa e próxima da seleção darwiniana das espécies, a despeito da legitimidade e da história das formas. Apenas uma forma costuma prevalecer, à custa do sacrifício das demais, sem que barreiras geográficas se imponham. Para tal, bastam as barreiras fictícias que a própria cultura inventa. Verdade é que entre a forma motivada e a forma simbólica entrevemos outras, parcialmente motivadas, como sanguixuga, ou remotivadas:sanguechupa, sanguechuva (ou reinterpretadassanguessorba). 

Popular
A beleza desse movimento todo raramente é apreciada pelos falantes, normalmente inseguros e intolerantes para com a variação heraclitiana da língua, sedentos de uma norma que regule o aparente caos. A norma culta, emanada dos céus pelos gramáticos, costuma ter valor de verdade indiscutível. E isso infelizmente se tem acirrado, nos últimos anos, quase como na década de 20 do século passado.

Quando o falante transformou, pela primeira vez, a palavra sanguessuga, ou melhor, *sanguexuga, emsanguechupa, estava preocupado em reconhecer os componentes da palavra, uma vez que em -xuga não se vê com clareza o antigo verbo sugar. Tornou-se chupa. 

Nem é preciso uma gramática normativa atuar nesses casos, conhecidos como etimologias populares. Desse movimento, ninguém está poupado, por mais culto que se julgue. Como se pode verificar, o mesmo movimento que gerou sanguechupa cria, noutro falante, uma forma mais misteriosa: sanguechuva. Não raro, são dessas formas que nascem lendas, numa tentativa de devolver à referência fatos trancafiados na dinâmica exclusiva do significante-significado. 

Vínculos

Quem convencerá aquele que dizsanguechuva de que não há relação alguma entre o bicho e a chuva? Seria igualmente difícil um nativo de inglês imaginar quefish (peixe) em crayfish(lagostim) seja um acidente histórico (a palavra vem do francês antigo crevice) ou quechou (repolho) em choucroute (chucrute) seja uma ilusão (a palavra vem do dialeto alsaciano sûrkrût, equivalente ao alemão oficial Sauerkraut, na verdade, historicamente falando, o 'croute' seria o repolho, pois 'chou', melhor dizendo, o alsaciano sûr, significa 'azedo'). 

Criar realidades e outras referências complexas a partir de palavras e dos acidentes históricos por elas sofridos é uma característica demasiadamente humana. Crer nelas é o segundo passo. O terceiro movimento é julgar as crenças alheias como errôneas. Intervir intolerantemente, na tentativa de que a forma dominante prevaleça, é o quarto. Convivemos com todos esses passos diariamente.

Dança das cadeiras

Apesar da distinção entre as imagens deste quadro, diremos que todas são cadeiras: abstraímos a diferença e ficamos voluntariamente cegos na confecção do signo linguístico - o significado dependerá dessa cegueira, sem a qual ele não se forma.



3/26/14

Etimologia

 

Etimologia

Sementes perdidas

Palavras cuja semelhança aparente faz supor a mesma origem escondem germinaçõe


Fazer etimologia requer dados e não imaginação. Ora, há línguas sem dados históricos. Como saber de onde vêm as palavras de uma língua indígena brasileira? Algumas pessoas afirmam que tupi e japonês têm semelhanças. De fato têm. Mas se pegarmos aleatoriamente duas línguas do mundo, elas também terão. Dos milhares de palavras que compõem uma língua, sempre haverá alguma coincidência entre duas línguas quaisquer. 

Os que defendem o parentesco entre o tupi e o japonês apresentam palavras quase idênticas, mas esse argumento é estranho, pois as palavras se modificam. Por que teriam permanecido misteriosamente parecidas antes da existência da escrita, da escola e da mídia, durante milênios? 

A verdadeira semelhança de línguas cognatas, contudo, é abstrata e está em relações fonéticas pouco óbvias, mas regulares: demandam estudo e prática para ser reconhecidas. Se isso não é realizado, acharemos semelhanças entre português e fenício, entre sumério e basco, entre quaisquer peças isoladas do quebra-cabeça incompleto da história. 

História de acidentes
Pensa pior ainda quem justifica o parentesco entre o tupi e o japonês por meio do aspecto físico "oriental" de nossos índios, por causa da alta incidência da mancha mongólica nos recém-nascidos ou por causa da ausência do fonema /l/ nas duas línguas: tudo isso são argumentos demasiadamente ad hoc. 

Nesses momentos, vale mais a nossa vontade que os dados. 
A origem oriental de nossos índios é algo inegável, mas entre os asiáticos que atravessaram o Estreito de Bering (ou o oceano Pacífico) não havia nenhum que falasse alguma língua tão aparentada com o japonês simplesmente porque, naquela época tão remota, não existia nem japonês nem tupi. 

Também não é sensato que, à luz dos metaplasmos, um fonema se mantivesse.

Mais estranho ainda seria que a ausência de um fonema se mantivesse ao longo de milhares de anos: afirmar isso seria, no mínimo, uma espécie de racismo, pois revelaria que esses povos, ao longo de milênios, teriam uma incapacidade inata de pronúncia ou de percepção de uma distinção fonológica que parece simples e óbvia só para os que têm uma visão eurocêntrica dos processos linguísticos.

A história das palavras percorre acidentes difíceis de determinar. Não é à toa que as línguas semíticas e as românicas sejam as mais propícias à criação de teorias linguísticas. Afinal, são elas as mais bem documentadas. Localizar os argumentos a favor de um étimo é o único grande desafio. E nem sempre isso é possível. Mais grave: nem sempre há interesse e disposição, no mundo contemporâneo de pouco apreço pela história, a despeito das facilidades tecnológicas. 

Vejamos a seguir um único exemplo, o da palavra "semente".

Os clãs da semente e do sêmen

O português tem a palavra "semente", que vem do acusativo sementem do latim. 
No dicionário, a palavra latina aparece no nominativo (sementis). 
Ninguém nega que o português "semente" e palavras cognatas em outras línguas (como italiano semente ou sementa, provençal semen, catalão sement, espanhol simiente) venham desse étimo óbvio. 
Com um pouco de variação, um plural neutro *sementia teria dado o romeno sămânţă, o italiano semenza, o francês semence, o logudorês sementa, o friulano semence e o provençal semença. 
Poderia terminar aí a nossa história.
Mas vemos que sementis em latim é a forma popular que se divulgou pelo latim clássico e vulgar. 
Na mesma época, havia a palavra semen, que era mais antiga. 
Conhecemos em português a palavra "sêmen", que é, na verdade, uma metáfora. 
O mesmo ocorre com o grego spérma, que também significa "semente" e originou "esperma".
Dentro das discussões filosóficas sobre os elementos que compunham as coisas (que iam dos átomos às letras), o termo foi traduzido do grego para seu equivalente latino. 
Da mesma forma, vieram todas as metáforas associadas à palavra.
O grego spermatikós foi traduzido por seminalis, donde vem o português "seminal". 
Também daí nasce seminarium, o local destinado aos brotos, isto é, os canteiros onde germinam as futuras colheitas ou flores. 
Não é difícil imaginar por que as antigas instituições educacionais eram chamadas de "seminários", locais onde floresceriam ideias. 
Mais tarde, da noção de lugar passou-se à dos integrantes dos seminários, isto é, aos próprios professores e daí às ideias desses professores semeadas em aulas ou em encontros específicos. 
Toda mudança semântica é, na verdade, uma metáfora ou uma metonímia. 
E no caso das palavras latinas, a maioria das ideias abstratas e culturais vieram da zona rural. 
Também do vocábulo semen nasce a palavra seminare que se transformou, mediante as regras fonéticas, no "semear" usado em português. 
Pela via culta, disseminare (semear em todas as direções) foi ressuscitada e gerou a palavra "disseminar", usada tanto para coisas boas quanto para as ruins.

 

O núcleo da semente

O empolgado, vítima do insight maravilhoso da Etimologia do quadro anterior, ao observar que a vida rústica e a intelectual andam de mãos dadas nas figuras de linguagem, gostará de ir além. 
Para isso, é preciso entender a fundo a palavra semen (semente) em latim. O radical dessa palavra é o verbo serere em latim, mais arcaico que seminare. 
A raiz é se-, como se vê ao aprendermos a conjugação verbal ("eu semeei" se diz seui). Trata-se de verbo irregular, cujos detalhes de sua forma anômala só poderão ser encontrados se formos ao indo-europeu. 
Nesse modelo, acharemos argumentos para justificar o -r- que vem após a raiz e forma o radical ser-. 
A raiz se- para o ato de semear se encontra em uma área extensa: das línguas eslavas às célticas (exemplos: russo séjat', alemão säen). Comparando essas línguas, entendemos de onde vem o -r- do latim serere. 
Trata-se de um redobro, fenômeno comum e vivo no sânscrito e no grego. 
Por exemplo: 
O verbo latino mordere (morder) fazia o passado como momordi (eu mordi).
O pretérito perfeito do verbo grego lýo (desligar) era lélyka.
Da raiz sânscrita pac deriva-se o perfeito papaca (cozinhei). 
As formas de redobro do presente são mais antigas e assistemáticas. 
De qualquer forma, o verbo serere seria a forma clássica de um latim arcaico *sesere (ou melhor, *sesese), indicando, na origem, o ato de "ir semeando continuamente", "ficar semeando". 
O rotacismo do -s- intervocálico, isto é, a transformação do -s- em -r-, é um fenômeno documentado na passagem do latim arcaico para o latim clássico. 
Ensina-nos o melhor dicionário etimológico já escrito (o Dictionnaire Étymologique de la Langue Latine, de Alfred Ernout e Antoine Meillet), que sa- do particípio satus é uma alternância vocálica, comum do indo-europeu, que tem testemunhos nas línguas célticas. 
Na formação da palavra latina semen verifica-se o sufixo -men e, como em outras palavras latinas (estudadas por Érica Soares de Freitas, verwww.usp.br/gmhp), é uma derivação bem antiga que podemos ver no germânico e no lituano. 
O -m- de "sêmen" também se encontra numa divindade (Semo), abandonada pela religião oficial romana, mas cultuada na zona rural.

 

 

Maravilhas em série

O destino de serere se chocou com o de outro verbo homônimo que significava "trançar, entrelaçar, colocar-se em fila", cujo derivado mais famoso é series, donde a palavra "série". 
O particípio, mais regular do que seu homônimo (sertus), será a base de um número grande de palavras associadas à retórica e ao direito. 
Seus derivados tiveram mais sucesso na vida urbana do Império Romano, que acabou por abandonar o irregular serere com o sentido de "semear". 
Também o perfeito desse segundo serere é mais regular: serui e não seui, mostrando que o -r- tem outra origem. 
Conjugações irregulares, é preciso dizer, têm uma sobrevida incrível ao longo dos milênios de história da língua e só desaparecem quando o contexto social as torna dissonantes, esquisitas, pouco funcionais.

 

O confronto das palavras com mesmo nome

Os dois significados de serere, usados na agricultura e no artesanato, acabaram por entrar em concorrência, vencendo o segundo 
A transição da agricultura para o comércio, e deste para o império, coincide com a própria história de Roma. Exemplo disso são os compostos prefixados. 
O poder dos prefixos latinos não se deve subestimar. Assim adserere (no clássico, asserere) tinha dois homônimos: "plantar junto de" e "ligar a si mesmo, afirmar, defender", mas só o segundo sobreviveu em palavras como "asserção", "assertivo". 
Também conserere era "plantar tudo junto" ou "ligar, unir" e só a última acepção sobreviveu em "conserto", "consertar". 
Por fim, disserere era "plantar, jogando as sementes para todos os lados" ou "retirar as tramas, expor, raciocinar", a que vemos em "dissertar", "dissertação". 
Do segundo serere temos inserere (trançar para dentro, introduzir, misturar), que suplantou o homônimo que significava "plantar dentro, implantar, enxertar" e se transformou no "inserir" português, presente na palavra culta "inserção" e na popular "enxerido". 

 

O deserto dos prefixos

Deserere (destrançar, sair da linha) passou a ser usado pelo jargão do exército romano. O particípio desertus gerará o verbo "desertar" e os substantivos "desertor" e "deserção". 
A palavra latina para "deserto" é desertum, entendido como um outro derivado de deserere (isto é, seu particípio no gênero neutro). Assim, desertum poderia ser entendido como "o abandonado", daí "um local abandonado, inculto, selvagem". 
Alguém me perguntou certa vez se "deserto" não teria vindo, na verdade, do egípcio dsrt (o vermelho), que se lê convencionalmente deshret ou desheret, por oposição ao Nilo, chamado de "o negro". 
Boa pergunta. 

A palavra egípcia é muito mais antiga que a latina. Os romanos só conheceram desertos após a sua expansão militar e poderia ser um empréstimo. 
Não é impossível que tenhamos uma homonímia (e uma etimologia popular) entre o particípio de deserere e a palavra egípcia dsrt, que nada tem a ver com as duas raízes que vínhamos comentando. 
Descobrir a verdade sobre duas hipóteses plausíveis é desafiador ao etimólogo e uma tarefa bem distinta da que costumeiramente tem de fazer: defender-se de etimologias fantasiosas.

2/26/14

Logosofia: paralelo entre logosofia e filosofia

  LOGOSOFIA


Logosofia é a Doutrina ético-filosófica fundada pelo pensador argentino González Pecotche
 (1901-1963), e que tem por objetivo ensinar o homem a chegar à autotransformação mediante
 um processo de evolução consciente, libertando assim o pensamento das influências sugestivas.
 Essa definição nos remete a uma questiúncula muita própria dos seres humanos. Ao pensarmos
 positivamente atraímos energias positivas? Claro que sim! E o inverso no levará ao caos? De certo
. O que de positivo tem a nos proporcionar a Logosofia, além dos preceitos repassados em sua 
definição? Vejamos: dizem alguns filósofos que é a ciência de Deus. Outros dizem ser a ciência
 do afeto e do autoconhecimento. Segundo alguns estudiosos e cientistas a Logosofia é uma ciência
 nova, que revela conhecimentos de natureza transcendente e concede ao espírito humano a
 prerrogativa de reinar na vida do ser que anima. Conduz o homem ao conhecimento de si mesmo,
 de Deus, do Universo e de suas leis eternas. Apresenta uma concepção original do homem, em sua
 organização psíquica e mental, e da vida humana em suas mais amplas possibilidades e proporções.
Quando os estudiosos se embrenham na sinonímia do espírito humano, eles não estarão
 imantando a alma humana como espírito fosse. As duas palavras aqui enunciadas têm seus
 significados próprios, visto que muitos confundem alma e espírito. Na concepção de determinada
 religião a alma seria o espírito encarnado. Com esta concepção todos os seres humanos são almas
 dotadas de espíritos. Esclarecendo mais um pouco, diremos que a palavra “Logos” deriva do grego
 e filosoficamente falando trata-se do princípio de inteligibilidade; a razão, mas segundo Heráclito
 (v. heraclitismo), o princípio supremo de unificação, portador do ritmo, da justiça e da harmonia
 que regem o Universo. Firme definição em nossa compreensão. Não devemos esquecer o que o
 grande filósofo Platão grego de nascimento quis dizer. Segundo Platão (v. platonismo), o princípio
 de ordem, mediador entre o mundo sensível e o inteligível. Se estas definições estiverem corretas
 e concretas, o homem deixa de ser um ser animal racional e passa a condição de hominal, além do
 mais sai da condição de simples mortal para uma posição mais ampla e confortável, de imortal.
 Visto que na estagnação biológica, o que se esvaia pela deteriorização da matéria volta ao fluído 
cósmico universal depois de iniciado o estado de putrefação. O Espírito é imortal. A casa onde ele
 habita, depois de determinado tempo ele abandona. E o mais importante é que hora, local e 
condições ele é possuidor.
A Logosofia tem a missão de levar o homem, mediante processos sucessivos de superação, 
a conquistar o domínio consciente de suas possibilidades humanas. Esta ciência tem seus
 objetivos precípuos. A evolução consciente do homem seria um dos objetivos, o conhecimento
 de si mesmo, a integração do espírito, o conhecimento das leis universais, o conhecimento do
 mundo mental, a edificação de uma nova vida e de um destino melhor, o desenvolvimento e o
 domínio profundo das funções de estudar, de aprender, de ensinar, de pensar e de realizar. 
No nosso entendimento a edificação de uma nova vida e de um destino melhor transforma-se
 em nossa opinião na famosa e pretendida, reforma íntima. Segundo a Fundação Logosófica a
 Pedagogia Logosófica revela o mundo interno do ser humano e descreve com precisão como está 
constituído e como funciona em cada uma das etapas da vida: infância, adolescência, juventude e
 idade adulta. Conhecer a Pedagogia Logosófica é ter acesso  a elementos valiosos sobre
 ainteligência, a sensibilidade, sobre o pensar e o sentir de cada fase da vida.
A base para o trabalho pedagógico são os conceitos originais apresentados pela Logosofia.
 Entre os conceitos que fundamentam essa nova linha pedagógica, destacam-se o conceito
 de vida, de liberdade, de defesas mentais, de pensamentos, de leis universais,
 de conhecimento de si mesmo, entre tantos outros, aliando-se à totalidade do saber
 adquirido o aporte precioso oferecido pela sensibilidade humana. A Pedagogia Logosófica
 baseia-se em duas forças: no conhecimento e no afeto, considerado este como a expressão
 mais elevada e consciente do amor, sendo aplicada nos Colégios Logosóficos, que integram o
 Sistema Logosófico de Educação, com Unidades Educacionais no Brasil, Argentina e Uruguai.
 Preceitos que a Doutrina Espírita já ensinava desde os meados de 1857 na França por Allan Kardec. Kardec ia muito mais além destes ensinamentos.
Ele traçou através de suas experiências o elo entre um mundo e outro. O mundo dos encarnados
 e dos desencarnados. A palavra Sofia vem do grego - sophía (como no grego. theosophía,
 'ciência das coisas divinas') do grego, sophía, as, 'habilidade manual'; 'saber', 'ciência'; 
'sabedoria', do grego, sophós, L, ón. E como complemento a igualdade entre 'sabedoria';
 'saber'; 'ciência': bibliotecosofia, filosofia, Logosofia, pansofia. A pansofia nada mais é do
 que a Ciência universal e todo o saber humano. Colocamos a disposição dos leitores nossa
 opinião respaldada em ensinamentos e pesquisas, pois sem esses elos não construiríamos nada.
 Sem Deus e Jesus Cristo estas filosofias nada representariam com certeza.

   

2/25/14

Português: Mito; escreve bem quem lê muito.

. Escreve bem quem lê muito

Não há vínculo direto e necessário entre ler muito e escrever bem. Tão importante quanto ler intensamente obras literárias de qualidade é praticar a escrita, testar a própria criatividade. Nada substitui a prática prazerosa de ler e escrever, credenciais naturais para quem deseja ser um bom redator. Como já disse a escritora Nélida Piñon à Língua 7 (abril de 2006), todos precisam ser reformulados pelas ideias do outro e um livro é uma maneira. Para Nélida, se você lê e não escreve, significa que está intimidado, e a leitura não está lhe dando a liberdade que ela tem a oferecer. Já se escreve e não lê, não se opõe às ideias dos outros para vir a ter ideias que possam representar uma mudança pessoal genuína.

Português: Mitos ; Há uma leitura correta para todo texto

. Há uma leitura correta para todo texto

Não há leitura "correta" ou "errada" de um texto, há gradações. Temos leituras que mais se aproximam do projeto de dizer de um autor e as que ficam mais distantes até que se tornam inaceitáveis. Tudo porque a leitura depende dos nossos conhecimentos de mundo. Duas pessoas dificilmente farão a mesma leitura de um texto. Não há texto totalmente explícito. Como se chega ao que está implícito? Ligando o que está no texto ao nosso saber de mundo. O leitor com pouco conhecimento fará a leitura superficial. Quanto mais acumulamos de saber, mais a fundo chegaremos.

Não se trata de pôr o foco só no autor, no leitor ou no texto, mas em todo o tripé. O autor tem um projeto de dizer que organiza o texto, colocando nele pistas para levar o leitor a determinado sentido. O texto é a materialidade que o leitor tem diante dos olhos e contém essas orientações. Já o leitor não é passivo, como se apenas restasse a ele entender as intenções do autor. O leitor constrói sentido, que pode ser mais ou menos próximo do que o autor tinha em mente.

2/20/14

ARTES: OLHOS DA MATA - GERALDO CRUZ



Obras do artista tem como foco a natureza, e já passaram em várias regiões brasileiras

OLHOS DA MATA é uma coleção de obra do artista Geraldo Cruz, inspirada no olhar perplexo dos habitantes da floresta que observam impotentes as ações insensatas do homem dito civilizado que destroem a natureza, o meio ambiente e a própria vida. A cor forte,a expressão no olhar são marcas profundas nessa coleção. 

"Olhos da Mata" é uma coleção só sobre olhos mesmo, é um close no olhar da arara, do tucano, do papagaio, da coruja, do jacaré, do índio, do seringueiro. Um olhar, sobre o olhar dos habitantes da floresta, sobre elas, olhos de habitantes da floresta em close, como que observar atônitos a insensatez humana ao destruir a Amazônia. A técnica utilizada por Geraldo Cruz para esta coleção foi concebida por telas esticadas como couros de animais ao sol.


Geraldo Cruz
Pintor, escultor, desenhista e cenógrafo, Geraldo Silva da Cruz nasceu em 1957 no seringal Jumas, às margens do Rio Madeira, no coração da floresta, no distrito de Calama, pertencente a Porto Velho. Iniciou a exposição de seus trabalhos a partir de 1980 no II Exposição Coletiva de Artes Plásticas promovida pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Turismo (Secet), em Porto Velho.

Português:1. "Saudade" só existe em português?

 

A palavra "saudade" não é particularidade da língua portuguesa. Porque derivada do latim, existe em outras línguas românicas. O espanhol tem soledad. O catalão soledat. O sentido, no entanto, não é o do português, está mais próximo da "nostalgia de casa", a vontade de voltar ao lar. 

A originalidade portuguesa foi a ampliação do termo a situações que não a solidão sentida pela falta do lar: saudade é a dor de uma ausência que temos prazer em sentir. Mesmo no campo semântico, no entanto, há correspondente, no romeno, mas em outra palavra: dor (diz-se "durere"). 


É um sentimento que existe em árabe, na expressão alistiyáqu ''ilal watani. O árabe pode, até, ter colaborado para a forma e o sentido do nosso "saudade", tanto quanto o latim.


2/19/14

Artes: Gabriel Cairo ( Escultura)

GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
 
 
"Beatrice"   - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
"Beatrice"
Cantata I - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
Cantata I
 
Cantata    - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
Cantata
Musa - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
Musa
 
Seducción Porteña - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
Seducción Porteña
Belle Epoque - Gabriel Cairo - GABRIEL CAIRO - ESCULTURAS
Belle Epoque
 
 
 
 
 
Sala "Musas"

Sala "Estructuras"
 
 
Estructuras Contenidas - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
Estructuras Contenidas
El Abrazo - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
El Abrazo
Familia II - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
Familia II
 
Familia III - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
Familia III
Anima y Animus I - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
Anima y Animus I
Anima y Animus II - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
Anima y Animus II
 
El Guardián de Sueños - Gabriel Cairo - Sala "Estructuras"
El Guardián de Sueños

Biografía

Nací en Buenos Aires en 1961
1992 al 2001 Taller de escultura de J. Carlos Visconti y Museo Luis Perlotti
1997 – Licenciado en Psicología – Universidad de Buenos Aires
1998 – Taller de Fundición a la Cera Perdida del escultor Antonio Pujía
1999 – Curso de Historia del Arte del Románico al Manierismo, Museo  Nacional de Bellas Artes – Buenos Aires
2001 – Curso Historia General del Arte – Asociación de Amigos MNBA
2001 – Organización del l Encuentro de Escultores en El Trapiche – Pcia. De San Luis - Argentina
2001 – Organización del l Encuentro de Escultores en Malargüe/ La Payunia, Pcia. De Mendoza – Argentina
2002 - Organización del ll Encuentro de Escultores en El Trapiche – Pcia. De San Luis – Argentina
2002 – Curso de Historia del Arte, del Gótico al Barroco - MNBA
2003 – Curso Académico de Historia del Arte – Florencia / Italia
2003 al 2004 Taller de Modelado – Florencia/ Italia
2005 – Curso de Especialización en Moldes de Silicona – Madrid
2006 al 2007 Taller de Talla en Madera – Madrid
2008 – Desde 2008 estudio de dibujo y pintura – Madrid – “El Estudio”

http://gabrielcairoesculturas.blogspot.com.br/

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Musica: Ressonância na ponte de Tacoma

 Isso mesmo, não importa a velocidade mais sim a frequência em que o vento excita a ponte , pois estando próximo a frequência natural de vibração da estrutura, esta passa então ao fenômeno de ressonância. O colapso na estrutura ocorreu devido a baixa taxa de amortecimento onde o FAD (Fator de Amplificação Dinâmica) excedeu as solicitações prevista em projeto. Com este acidente se deu inicio ao estudo ao comportamento dinâmico de estruturas, onde ate então era conhecido na aeronáutica.
Quebrar uma taça no grito é muito mais fácil do que se pensa.
   Definição: Vento, é o ar em movimento 
                   Som , é o deslocamento de ar.
                  Ressonância: é a vibração de duas  ondas  numa mesma frequência! convém ressaltar que o som gera uma onda sonora, foi por isso que a orquestra de Davi citada na bíblia derrubou as muralhas de jericó com o sopro dos instrumentos, cientificamente é possível.

2/18/14

Português: Etimologia; Mitos da linguagem: A torre de Babel

Etimologia

Mitos da linguagem:  A torre de Babel

É falsa a premissa de que a língua só se fragmenta sem nunca convergir e nada garante que o Homo sapiens foi o primeiro hominídeo a ter a linguagem




Muitas vezes conhecemos fatos que desembocam numa teoria plausível, no entanto esse esforço da razão não é assimilado completamente por causa de um mito. Por serem mais poéticos e apelativos, os mitos não são quase nunca descartados e são aceitos sem questionamento como uma opção à verdade. 

Quando revestidos de uma aura de verdade absoluta, tornam-se concorrentes desleais para as teorias construídas com dados e raciocínio, as quais não têm a mesma carga emocional. 

O início da Bíblia nos oferece uma grande fonte de mitos. 


Os primeiros cristãos, como Fílon de Alexandria, Santo Ambrósio e Santo Agostinho, apostavam em significados alegóricos em vez de literais. Obviamente a eles se contrapunham outros cristãos como Tertuliano, que ironizava a sapiência humana em sua famosa frase 'Credo quia absurdum' (creio porque é absurdo). Entre o alegorismo e o fideísmo, pouca margem há, contudo, para a dúvida. O mito persiste, portanto, em parte porque é belo, em parte porque tememos negá-lo completamente.

Um desses mitos é o da Torre de Babel, no Gênesis, capítulo 11. 

Logo no 1º versículo, afirma-se que 'em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar'. 


Em seguida, descreve-se a construção da famosa torre na planície de Sinear. Enquanto a construíam, Deus desceu para ver a cidade e disse para si mesmo 'eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem (...) vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do outro'. 

Migrações decisivas
O modo como Deus os confundiu é claro: 'o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra: e cessaram de edificar a cidade' e no versículo seguinte, reafirma: 'chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra, e dali os dispersou por toda a superfície dela'. 

Desse modo, em nove versículos explica-se um dos problemas mais intrincados da linguística: como as línguas se formam e como se diferenciam com o passar do tempo. Para tal, usou-se uma ideia quase intuitiva: no início havia uma só língua e, em seguida, havia muitas.