Etimologia
Mitos da linguagem: A torre de Babel
É falsa a premissa de que a língua só se fragmenta sem nunca convergir e nada garante que o Homo sapiens foi o primeiro hominídeo a ter a linguagem
Muitas vezes conhecemos fatos que desembocam numa teoria plausível, no entanto esse esforço da razão não é assimilado completamente por causa de um mito. Por serem mais poéticos e apelativos, os mitos não são quase nunca descartados e são aceitos sem questionamento como uma opção à verdade.
Quando revestidos de uma aura de verdade absoluta, tornam-se concorrentes desleais para as teorias construídas com dados e raciocínio, as quais não têm a mesma carga emocional.
O início da Bíblia nos oferece uma grande fonte de mitos.
Os primeiros cristãos, como Fílon de Alexandria, Santo Ambrósio e Santo Agostinho, apostavam em significados alegóricos em vez de literais. Obviamente a eles se contrapunham outros cristãos como Tertuliano, que ironizava a sapiência humana em sua famosa frase 'Credo quia absurdum' (creio porque é absurdo). Entre o alegorismo e o fideísmo, pouca margem há, contudo, para a dúvida. O mito persiste, portanto, em parte porque é belo, em parte porque tememos negá-lo completamente.
Um desses mitos é o da Torre de Babel, no Gênesis, capítulo 11.
Logo no 1º versículo, afirma-se que 'em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar'.
Em seguida, descreve-se a construção da famosa torre na planície de Sinear. Enquanto a construíam, Deus desceu para ver a cidade e disse para si mesmo 'eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem (...) vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do outro'.
Migrações decisivas
O modo como Deus os confundiu é claro: 'o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra: e cessaram de edificar a cidade' e no versículo seguinte, reafirma: 'chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra, e dali os dispersou por toda a superfície dela'.
Desse modo, em nove versículos explica-se um dos problemas mais intrincados da linguística: como as línguas se formam e como se diferenciam com o passar do tempo. Para tal, usou-se uma ideia quase intuitiva: no início havia uma só língua e, em seguida, havia muitas.
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