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9/19/13

Historia da musica: Pose ( Engenheiros do havai)

Analise literária : Musica Pose ( Engenheiros do havai)

A obra do cancionista Humberto Gessinger traz um retrato da sociedade brasileira das gerações de 80 e 90, em especial da juventude,
questionando sua identidade, suas referências e o quadro político-social mundial. É o relato de uma geração crescida sob uma cultura de massa assombrada pelo espectro de super-heróis diversos, filmes de ação cada vez mais violentos, videogames em
que a luta é mais protagonista do que os lutadores, esportes que se tornam a cada salto mais radicais. É a sociedade que sofre a desilusão com a história política do país, que sofre com o excesso de informações e com a solidão das cidades.
Consoante a esse conceito, Gessinger fez da letra de Pose um instrumento de
crítica ao caos a que se encontrava e semales que a Revolução TécnicoCientíficatrouxe para o mundo, o qual é conceituado ironicamente pelo músico como um “cemitério de automóveis”. No entanto, é necessário reavivar diariamente a esperança (flores) presente nos corações e ‘regá-la’, para que depois possam ser colhidas “as flores que
nascerem no asfalto” – asfalto este símbolo da frieza e do mundo calculista,
marcado pelo consumismo desenfreado, pelo egocentrismo, pelas relações
políticas e sociais e pela violência. Dessa maneira, é essencial que todos se unam e
corram atrás de “tudo que se possa imaginar”. Nas estrofes seguintes, enfatiza-se a
necessidade de questionar o mundo e colocar em xeque tudo o que a princípio
é tido como certo. Aqui, continua-se a criticar as tecnologias do setor industrial,
notadamente do pólo petroquímico – “Vamos namorar à luz do pólo petroquímico”. ‘Iludir-se’ na esperança de que tudo isso pode ser revertido, ‘ilusão’ demonstrada pelo retorno para casa através de um “navio fantasma”. Porém, a solução é a união, a força de todos e o desejo de “velejar no mar de lama”, o qual muitas vezes suja até
mesmo a alma, mas com a ânsia de “remar contra a corrente / Desafinado
coro dos contentes” e crer que “se não for possível, a gente tenta”. Assim, Gessinger trabalha a com a crítica social, que tem um contexto histórico firmado no Imperialismo, no qual, sob as observações de Adorno (2003), as almas
e os objetos passaram a ser guiados pelo interesse das empresas e indústrias, que
visavam o lucro. Por conseguinte, o sonho e a esperança ficaram restritos à
obra poética que não se permitiu ser dominada pelo Imperialismo e só mais
tarde alcançou outros gêneros literários. Dessa forma, há uma proximidade entre
poesia e canção, porém, não devem ser
confundidos.

Gessinger, integrante do grupo
Engenheiros do Hawaii e compositor de
muitas das músicas da banda, em
especial, Pose. O compositor e músico
apropriou-se, de acordo com Franz
(2007), de elementos da Bossa-Nova,
Tropicalismo, Jovem Guarda; as
filosofias de Nietzsche, Sartre e Camus,
a linguagem tipicamente social dos
textos de Ferreira Gullar, Rimbaud, John
Fante, George Orwell; assim como os
aspectos nacionais e regionais de
Drummond, Josué Guimarães e Moacyr
Scliar.
No tocante a Drummond, Gessinger fez
uma intertextualidade, mesmo que
indireta, do poema A flor e a náusea e
com a canção Pose. No entanto, o
músico soube com maestria expressar
seus pensamentos e demonstrá-los com
autenticidade.

Historia da musica: Andar com fé( gilberto gil)


Partindo desse tipo de análise de implicações, a música Andar com fé, de Gilberto Gil, é um texto que manifesta a implicatura sociolinguística, sem a qual ela não pode ser
bem interpretada:
Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não
costuma faiá / Que a fé tá na mulher / A fé tá na cobra coral / Num pedaço de pão / A
fé tá na maré / Na lâmina de um punhal / Na luz, na escuridão / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / A fé tá na manhã / A fé tá no anoitecer / No calor do verão / A fé tá viva e sã / A fé também tá pra morrer / Triste na solidão / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Andá com fé eu vou / Que a fé não costuma faiá / Certo ou errado até / A fé vai onde quer que eu vá / A pé ou de avião / Mesmo a quem não tem fé / A fé costuma acompanhar / Pelo sim, pelo não. (Gil, 1996, p. 256.)
A noção de sociolinguística fundamental nessa música é explicada em livro pelo próprio autor, demonstrando o seu vasto conhecimento de língua em uso:
"A fé e a ?Faia?". "O uso do ?faiá? é assumido com a intenção de legitimar uma forma popular contra a hegemonia do bem-falar das elites. É uma homenagem ao linguajar caipira, ao modo popular mineiro, paulista, baiano ? brasileiro, enfim ? de falar ?falhar? no interior. É quase como se a frase da canção não pudesse ser verdade se o verbo fosse pronunciado corretamente ? o que seria um erro... Outro dia cometeram esse ?deslize? na Bahia, ao utilizarem a expressão na promoção de uma campanha de cinto de segurança. Nos outdoors, saiu: ?a fé não costuma falhar? (a propaganda associava o cinto à fitinha do Senhor do Bonfim). Eu deixei, mas achei a correção desnecessária.""faiá" é coração, "falhar" é cabeça, e fé é coração. Gil: "É isso aí. ?a fé não costuma faiá?: é pra quem fala assim que ela não costuma ?faiá?." (Gil, 1996, p. 256.)