Vilão da telenovela Amor à Vida, personagem de Mateus Solano tem nas máximas pseudobíblicas um trampolim para o humor |
Com inteligência e perspicácia, a telenovela Amor à Vida (Globo, 21h) aborda o homossexualismo. Para suavizar o tema, ainda polêmico em nossa sociedade, o autor Walcyr Carrasco inclui nas falas do vilão homossexual enrustido diversos bordões humorados. O novelista criou o protagonista Félix, com falas que apresentam o seu humor sarcástico.
Ao menos nos capítulos iniciais da novela, sempre que algo desse errado, ou desagradasse à personagem, ele soltava "Salguei a Santa Ceia!", que ganhou as ruas. A intertextualidade é evidentemente bíblica, e remete à última refeição que reuniu Cristo com os 12 apóstolos. O verbo "salgar" remete ao condimento "sal", que, em demasia, estraga as comidas. Como esse bordão fez sucesso, o autor criou novas expressões, quase sempre com a temática religiosa e as formas verbais na 1ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo, expressando uma ação já ocorrida. Essa pessoa do discurso pressupõe não só a participação da personagem na ação evidenciada, como também a sua autoria. Criatividade A presença desses bordões na novela Amor à Vida configura a criatividade do autor ao explorar uma personagem - ainda em criação - que conseguiu desenvolver um modelo característico de vilão. O homossexualismo, a princípio temática central do protagonista, passou a ser secundário, uma vez que os telespectadores têm outros olhos para Félix, pois aguardam qual será a sua fala do dia, qual será o seu novo e criativo bordão. O desempenho do protagonista foi tão evidenciado, que os internautas fizeram uso das redes sociais para apor as suas opiniões e dar sugestões de novos bordões ao autor da novela. Evidencia-se uma coautoria na dramaturgia novelesca. As citações - Santa Ceia, Santo Sepulcro, Dez Mandamentos, Mar Morto - fazem com que o telespectador realize a intertextualidade com fatos e elementos bíblicos já conhecidos, facilitando a compreensão imediata e valorizando, assim, o humor sarcástico da personagem.
Ao menos nos capítulos iniciais da novela, sempre que algo desse errado, ou desagradasse à personagem, ele soltava "Salguei a Santa Ceia!", que ganhou as ruas. A intertextualidade é evidentemente bíblica, e remete à última refeição que reuniu Cristo com os 12 apóstolos. O verbo "salgar" remete ao condimento "sal", que, em demasia, estraga as comidas. Como esse bordão fez sucesso, o autor criou novas expressões, quase sempre com a temática religiosa e as formas verbais na 1ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo, expressando uma ação já ocorrida. Essa pessoa do discurso pressupõe não só a participação da personagem na ação evidenciada, como também a sua autoria. Criatividade A presença desses bordões na novela Amor à Vida configura a criatividade do autor ao explorar uma personagem - ainda em criação - que conseguiu desenvolver um modelo característico de vilão. O homossexualismo, a princípio temática central do protagonista, passou a ser secundário, uma vez que os telespectadores têm outros olhos para Félix, pois aguardam qual será a sua fala do dia, qual será o seu novo e criativo bordão. O desempenho do protagonista foi tão evidenciado, que os internautas fizeram uso das redes sociais para apor as suas opiniões e dar sugestões de novos bordões ao autor da novela. Evidencia-se uma coautoria na dramaturgia novelesca. As citações - Santa Ceia, Santo Sepulcro, Dez Mandamentos, Mar Morto - fazem com que o telespectador realize a intertextualidade com fatos e elementos bíblicos já conhecidos, facilitando a compreensão imediata e valorizando, assim, o humor sarcástico da personagem.
Piquei salsinha na Tábua dos Dez Mandamentos
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Numa situação adversa, Félix novamente usa um condimento para o tempero de saladas. Percebe-se a polissemia com a palavra "tábua" que apresenta dois sentidos: suporte de madeira ou de outro material para o corte de verduras, vegetais, etc. e a Tábua dos Dez Mandamentos, de Moisés.
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Sapateei no Santo Sepulcro
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Com a frase, novamente se evidencia a 1ª pessoa, definindo o local onde Jesus foi enterrado; o verbo "sapatear", a dança, nessa frase pressupõe uma ação indigna, irônica, que não é própria de um cidadão de bem.
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Quando a gente chega ao fundo do poço, vê que o buraco é mais embaixo
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Não se trata propriamente de um bordão, nem mesmo bíblico, mas de um adágio já conhecido e bastante explorado, usado pelo autor da novela como recurso humorístico ao retratar um momento de desespero de Félix.
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Será que fiz confete com os pergaminhos do Mar Morto? |
Quando Félix explodiu com a fala, mudou-se a estrutura do enunciado. Vem à tona o local bíblico "Mar Morto" - ainda existente em Israel -, e o termo arcaico "pergaminhos", numa referência a picar em pedaços alguns documentos antigos e valiosos.
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Tomei caipirinha no Santo Graal
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Não se trata de um suco ou refrigerante, mas de uma bebida alcoólica, que contrasta com a sacralidade do cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia.
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Pelos cachos de Sansão! Pelas rugas de Matusalém!
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Em um mesmo capítulo, Félix soltou: "Pelas barbas do profeta!", expressão nominal já conhecida. Pouco antes, no entanto, ele havia dito: "Pelos cachos de Sansão!" Por analogia à outra, o autor usou o paralelismo sintático (contração + substantivo + preposição + substantivo), substituindo "barbas do profeta" por "cachos de Sansão", uma vez que a raiz da força descomunal de Sansão eram os cabelos, por isso o apelo a "cachos". Depois, seguindo o mesmo paralelismo, o autor traz outra personagem bíblica do Antigo Testamento, conhecida por ser a personagem mais longeva da Bíblia. Explica-se, portanto, o termo "rugas".
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