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4/22/13

LITERATURA- O CORTIÇO no contexto do naturalismo

O cortiço


 de Aluísio Azevedo, e o novo paradigma

na literatura brasileira oitocentista: o naturalismo



OBJETIVO


Refletir sobre o papel de

O cortiço, de Aluísio Azevedo, na formação do

novo paradigma da literatura brasileira, o naturalismo.


LEITURA RECOMENDADA


O cortiço


, de Aluísio Azevedo, e o novo paradigma na literatura brasileira

oitocentista: o naturalismo



Isabel Pires

A partir da comparação feita por Antônio Cândido, no texto

De cortiço a

cortiço


(1993), entre O cortiço, de Aluísio Azevedo, e O germinal, de Émile Zola, pudesse

perceber que o naturalismo no Brasil, tal como o romantismo, ainda importa um

modelo de romance europeu, sobretudo francês. Para Cândido, porém, enquanto Zola

apresenta simplesmente o modo de vida do operário francês, num cortiço cuja

característica mais marcante é a verticalidade como resultado do processo

desordenado de urbanização,

O cortiço de Aluísio Azevedo representa “aspectos que

definem o país todo” (p.138), superando assim a obra que lhe serviu de modelo.

[...]

Para ele [Antônio Candido], o Naturalismo brasileiro, ao propor o

determinismo do meio e da raça como fatores incontroláveis de degradação da

sociedade, faz com que os intelectuais e os políticos da época percam de vista “a

dimensão mais acessível, que são os aspectos sociais, onde está a chave” (p.139), e

que seriam revelados somente mais tarde, com os estudos sociológicos de Gilberto

Freyre.

[...]


 
Em

O cortiço, a mistura das raças, que começa a ser abordada pela

literatura no Brasil como um dado concreto da sociedade brasileira, é vista

incontestavelmente como algo negativo e mesmo degradante na conformação dessa

mesma sociedade. A “Estalagem de São Romão”, ou seja, o cortiço onde se desenrola

a história do livro, abrigando imigrantes italianos, colonos portugueses, brasileiros

pobres, mulatos e mestiços de todo o tipo transforma-se, na ótica de Aluísio Azevedo,

em um lugar brutal, onde vida e morte pouco valem, espécie de charco no qual

fermentam vícios e paixões animalizadas, expondo o lado vil da existência humana.

Assim, o meio também se revela, pelo paradigma naturalista adotado, como fator de

conformação social. Em

O cortiço, pois, o paradigma naturalista substitue o paradigma

de literatura como “documento da história”, presente no romantismo. Deste modo, no

ambiente do cortiço, os personagens, de acordo com o novo paradigma, são reduzidos

à condição de “documentos humanos” (RIEDEL, s/data), servindo de estudo da

“patologia” da sociedade, em que a raça e o meio têm papel preponderante.

O cortiço, embora composto por personagens individualizados, cada um

com a história de vida própria, se sobrepõe à individualidade para ser “a comuna” (

O

cortiço


, p.113), tornando-se assim um personagem coletivo, resultante da mistura

orgânica entre a “terra fumegante e a umidade quente e lodosa” (RIEDEL, p.26).

[...]

No entanto, não é somente na conjugação dos fatores raça e meio que a

adoção do paradigma positivista se evidencia na obra de Aluísio Azevedo. Este também

é claramente demonstrado pela pretensa imparcialidade com que o ponto de vista de

cada personagem é apresentado. Ou seja, é oferecida ao leitor, igualmente, a visão —

ou “versão” — que cada um possui acerca dos fatos em que se envolvem.

[...]

Finalmente, mais um traço do paradigma positivista da ciência adotado em

O cortiço pode ser percebido pela ausência de julgamento da conduta dos

personagens, cujo extremo é a impunidade dos crimes cometidos (os roubos e

falsificações de João Romão, o assassinato de Firmo por Jerônimo e seus cúmplices,

os excessos da polícia etc.). Nesse aspecto,

O cortiço se distancia drasticamente do

romantismo, e em especial da obra de José de Alencar, que encerra juízos de valor,

com consequente “julgamento” e “condenação” da conduta dos personagens, como

ocorre em Lucíola, com a morte da prostituta Lúcia. [...]

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